talvez matou o gato; o mais provável
foi um azar lamentável, ou o gato curioso
quis conhecer a morte, sem motivo
para lamber as presas, ou conceber ninhada
na ninhada dos gatinhos, como era plausível.
No entanto, ser curioso
é muito perigoso. Suspeitar
do que sempre é dito, do que parecia,
ter dúvidas estranhas, impedir a fantasia,
Sair de casa, farejar ratos, ter rações
não estima gatos para sociedades de cães
onde cestas asseadas, esposas educadas e boas refeições
são a ordem das coisas, e onde imperioso
é o abanar de cabeças e caudas incuriosos.
Admita. Curiosidade
Em si não nos mata –
Mas sua falta é fatal.
Nunca querer avistar
o outro lado do canal
ou aquele país inverossímil
onde viver é formidável
(talvez seja detestável)
para nós seria letal.
Somente os curiosos
têm, se vivem, uma lenda
para contar no final.
Cães dizem que os gatos amam demais, são inconstantes
são mutantes, casam com várias queridas
desertam seus filhos, esfriam todos os jantares
com contos de nove vidas.
Bom, eles são felizardos. Que tenham
nove vidas e sejam contrários,
curiosos o bastante para mudar, preparados
para o preço do gato, que é morrer
e morrer a cada momento,
sem que atenue o sofrimento.
Uma minoria de um
é tudo o que resta
para contar a verdade. E o que os gatos contam
cada vez que do inferno retornam
É isto: que a morte é o destino dos viventes,
Que a morte é o destino dos amantes,
E que cães mortos são os que não sabem
Que para viver, só a morte é relevante.
Alastair Reid Trad. Virna Teixeira
porque dizem que os gatos tem sete vidas
é tão breve a vida
que uma vida só
não basta
II
queria ter sete vidas
para saciar o cio
o ócio e a dor
III
nasceria sete vezes
várias chances teria
de acertar
IV
se muitas vezes errasse
recomeçaria cíclica a vida
quanto mais eu vivesse
V
é um mistério
mais vidas me esperam
quanto mais sete eu vivo
VI
o caminho é infinito
ter sete vidas é muito
se é longa a espera
VII
melhor seria uma vida longa
depois renascer
em outro mundo
Solange Firmino
Meu dia
hoje começou um pouco tumultuado. Acordei cedo (por volta das 10h. rs) com a vizinha gritando meu nome à porta.- Véééééééééra. Véééééééééra! Tem um gato seu morto na minha calçada desde as 6h da manhã, dá um jeito de tirar de lá agora.
Que delicadeza de pessoa. Que alma boa (grrrrrrrrr).
Essa pessoa é a mesma que há uns meses atrás, após me atormentar dias e dias que queria um cão para vigiar sua casa assaltada em sua ausência, ao verificar que cachorros sujam o quintal, destroem plantas e objetos achados pelo quintal (pelo menos enquanto filhotes), simplesmente o colocou para fora do portão e o largou a própria sorte.
Minha filha foi quem recolheu o cão e achou um lar decente para ele morar.
Voltando ao assunto, meu coração quase saiu pela boca quando ela disse que era um siamês – o Elvis é siamês – corri até lá, ainda de camisola e peignoir – para descobrir, graças a Deus, que não era ele.
Fui até a dona do gato e avisei. A mesma me disse:
- Quem manda ser rueiro, sabia que iria acontecer isso; ser atropelado.
Deixei as duas discutindo quem pegaria o gato e o que seria feito, e voltei para casa.
Um susto desse logo cedo, em jejum, é de fazer qualquer diabético cair duro no chão, mas tomei meu café, meu remédio e voltei pra cama. No momento estou bem, apenas muito injuriada com tudo o que aconteceu.
A maioria das pessoas não tem o mínimo de respeito aos animais e seus donos. Por aqui todos sabem o carinho que tenho pelos meus, mas não levam a sério.
Chamei a todos os gatos, conversei com eles e vi que de alguma forma estavam um pouco assustados, provavelmente viram o que aconteceu.
Me lembrei de uma notícia que li sobre um cão achado no lixão, não se sabe se sofreu pauladas ou foi atropelado. Enfiaram o coitado num saco de lixo, amarraram e o deixaram para o caminhão levar – AINDA VIVO!
Os funcionários da empresa de limpeza – santos homens – o acharam e levaram à veterinária, que está cuidando dele.
Ainda bem que no meio de tanta coisa ruim ainda se acham pessoas de bom coração.
Deixo meu bom dia de hoje com a certeza que o homem ainda tem chance de sobreviver nessa terra, só depende de nós e nosso exemplo.
Vera Vilela
Somos duas Gaias. Ela e eu. Ela é uma gata. Uma vira-lata legítima, por isso o arzinho sossegado de sabedoria em sua carinha branca, enfeitada com uma franjinha preta, que mata a gente de vontade de carinhar. Ela é Gaia que virou Gainha, porque ela é toda inha mesmo. Diminutiva. Gostosinha, meiguinha, charmosinha, levadinha.
Levei um certo tempo pra me acostumar com outra ao lado dele, enquanto eu fico longe. Mesmo sendo uma quadrúpede, ela já me fez miar de ciúme. Ciúme cruel. Uma vez fiz ele responder: "Nós três num barco e o barco vai afundar, se um não sair. Só você sabe remar. Quem você jogaria na água? A Gainha ou eu?" Ele respondeu que jogava a Gainha, mas falou com o coração tão sufocado, que eu quase pulei do barco e me afoguei no mar.
Depois fui me acostumando. E gostando de ouvir as histórias dela que ele me contava, as manias que ela tem, as brincadeiras dos dois, o jeito que ela gosta de dormir com ele na mesma cama, encostada em suas pernas. Deve ser por isso que ela vive no cio. Perto dele, que nem é um gato. Quer dizer, não come ração.
Gainha é Gaia por minha causa. Uma jura de amor eloqüente, corajosa e irreversível. Porque ela vai viver anos ao lado dele e ele vai chamá-la pelo tempo afora assim. Mesmo se o amor acabar. Meu apelido. Meu nome. Todas as vezes que ele chama a gata. O som do meu nome que ele fala de longe e eu escuto daqui.
Silvana Guimarães
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