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11 de mar. de 2011

A volta dos que foram

Alma perturbada
Amanheceu um dia lindo de sol. Abri a janela, respirei fundo e... ouvi dois tiros. Me abaixei rapidamente. Fiquei trêmulo. Permaneci imóvel por uns cinco minutos, de olhos fechados e tapando os ouvidos. Quando abri os olhos, ele estava lá. Olhando para mim com seu rosto pálido e assustador.

Tudo começou nesse dia. Minha mãe voltou correndo para casa para ver se eu estava bem. Disse que um homem tentou assaltar uma moça. O bandido acabou assassinando a jovem e seu filho de dez anos.

Todos os dias ele está ao meu lado. Seu nome era Robson e, como eu já disse, tinha dez anos. Nunca mais dormi uma noite completa de sono depois daqueles dois tiros. Robson fica todas as noites de pé, ao lado da minha cama, me olhando. Ele não fala nada, mas faz muito barulho. Ele bate as portas do guarda roupa, acende as luzes do quarto e espalha minhas roupas.

Já falei com minha mãe sobre ele, mas ela acha que estou inventando desculpas para minha bagunça.

Meu tormento tornou-se maior quando Robson começou a tentar se comunicar comigo. Um dia ele rasgou uma foto dos meus pais ao meio, separando-os. Chorei de raiva e de desespero, mas ele não entendia. Seus olhos ficaram vermelhos de ódio e de sua boca saia um líquido espumoso, que manchava o carpete de casa. Ele avançou contra meu pescoço, mas minha mãe chegou a tempo e ele desapareceu antes que ela o visse. Em outra ocasião, ele pegou a metade da foto com minha mãe e tentou colocar fogo. Por muito pouco não causa um incêndio em meu quarto.

Certa noite, acordei com um som metálico batendo nos móveis. Quando pude perceber, Robson estava de pé, ao lado da minha cama, apontando uma arma para minha cabeça. Não tive tempo de pensar. Ele apertou o gatilho sete vezes e desapareceu. A pistola caiu no chão. Por sorte, não havia munição na arma.

Resolvi mostrar para meus pais a arma e tentar contar o que aconteceu. Durante o café da manhã, mostrei a arma para eles. Minha mãe ficou apavorada. Deixou cair a xícara de café que tomava. Meu pai, um pouco mais calmo, me perguntou onde peguei a arma. Eu apenas disse:

- Uma criança, chamada Robson me deu.

Dessa vez foi meu pai quem ficou nervoso. Suas mãos tremiam sobre as migalhas de pão. Ele me pediu a arma, deixou-a sobre a mesa e disse já com lágrimas nos olhos:

- Preciso contar uma coisa a vocês. Essa criança, o Robson, que te acompanha, é seu irmão. Ele era filho daquela moça que morreu há alguns meses atrás. Eu traí sua mãe, meu filho, e voltei a traí-la há algum tempo atrás, até que o destino acabou com a traição da pior forma possível. Não consigo mais esconder isso. Essa criança me perturba todas as noites. Não posso mais conviver com isso. Peço perdão, minha querid...

Antes de terminar a frase, minha mãe já havia enviado a faca de pão pelo pescoço do meu pai.

- Pensa que não sei, seu desgraçado? Fui eu quem pegou a arma e matou aquela vagabunda e o pivete que você teve com ela! Não agüentava mais isso! Eu precisava por um fim nisso! E hoje eu o farei!

Minha mãe passou a faca nos olhos do papai. Ele tentava gritar, mas o sangue que escorria de sua garganta o impedia de fazer qualquer movimento. Ela mordia suas orelhas, arrancando pedaço por pedaço da carne de seu rosto. Não eram mais meus pais. Eram dois demônios encarnados em pessoas. Corri para meu quarto e me tranquei. Lá, encontrei Robson segurando três cartuchos de munição para a arma. Não tive dúvida: Corri para a cozinha, peguei a arma, carreguei-a e atirei nas costas da minha mãe.

A polícia chegou ao local e não teve dúvidas: Matei meus pais. Hoje vivo trancado aqui no hospital psiquiátrico de Natal. Longe de tudo, da família que me resta, dos amigos e da sanidade mental que eu tinha antes.

Tenho que encerrar essa história por aqui. Meu pai está aqui do meu lado e me pede para que eu seja breve, pois eles já sabem onde eu estou. Robson e minha mãe estão ai com você, parados do seu lado direito lendo minhas palavras.

Adeus

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